sexta-feira, maio 14, 2010

Diálogos do Inconsciente

Não sabia o que te dizer mas o meu inconsciente ajudou me. No dia em que não soube o que dizer para te fazer feliz, segui o teu caminho e fiz de ti a mulher mais feliz do mundo. Agora vives no castelo que te construí com todas as pedras que me atiraste e vives neste pequeno mundo em que eu pintei o cenário só a teu gosto. Espero que gostes, mesmo sabendo que o meu inconsciente já não te reconhece.

segunda-feira, outubro 13, 2008

O teu espelho

Os velhos tempos recordam-me o que nunca chegou a ser nosso. Ficou tão perto que nem queria acreditar. E não acreditei. Tu foste embora e eu fiquei aqui, esperando que voltasses. Fui esquecendo. Comecei pelos sítios que eram nossos, depois pelas palavras que eram nossas e por fim por aquilo que era para ser nosso, mas que nunca foi. Eu olhava no meu espelho tentando imaginar cada vez menos o que o teu espelho via. Eu acreditei até hoje que te tinha esquecido e o meu espelho era o único que sabia.
Esta manhã quando te vi a sair do carro segurando um ramo enorme de flores, parei. O teu andar continua igual, elegante e decidido. Os cabelos, as roupas e os tempos estão diferentes, mas a tua essência continua intocável. Senti, ali mesmo, um desejo. Queria ser o teu espelho. Aquele a quem perguntas todas as manhãs o que deves vestir, se estás gorda, nunca estarias, a maquilhagem que deves usar, quando ensaias o que vais dizer e aquele ultimo olhar secreto que fazes antes de o abandonares. Não fazes isso com mais ninguém. Nem mesmo com o homem que te ofereceu as flores e que acordou hoje ao teu lado com o teu espelho a reconhecê-lo.

Pensando melhor, prefiro viver infeliz olhando o meu espelho.

sexta-feira, outubro 10, 2008

Tenho Pena de Ti

Enquanto Homem há algo que me intriga.
Deixei de ser um Homem no dia em que gritei ao mundo que vou fugir contigo para ser um Homem Feliz. É isto que me faz acreditar que nesse mesmo dia, vais finalmente poder dizer que és uma Mulher Feliz.
Hoje, quando te pergunto se és feliz tu respondes com prontidão e com aquele tom que conheço de cor, "Sim, estou bem". Isso não chega. Para ti também não devia chegar. Mas o que acontece é que tal como tu, toda a gente traça um rumo com base no medo. Tu não mexes em nada para não te perderes. Que pena que eu tenho de ti. Eu hoje posso dizer-te, que quando me beijaste, fiz de ti uma Mulher Feliz; que cada vez que te recordas desse beijo és uma Mulher Feliz; que cada vez que recordas o meu abraço és Feliz. Quando estas nossas lembranças vão embora, para um lugar seguro onde ninguém as possa ver, tu choras; quando pensas em mim sem ser a abraçar-te, tu choras; quando me vês sem estar a abraçar-te, tu choras. Desde que eu exista à tua frente, tu choras porque tens medo.
Isto tem me intrigado ao longo dos nossos tempos separados. A ti não?
Tenho pena de ti.

segunda-feira, dezembro 03, 2007

Ele, ela e o meu trabalho

Não quero mais este trabalho.

Quero parar este sufoco. O meu trabalho é amar-te e fazer-te mais feliz que ontem. Mas quanto trabalho dá fazer uma Mulher feliz? Penso que nenhum Homem sabe. A Mulher também não. Tu não fazes a mínima ideia.

Gostava de ser como o meu tio: um cabrão elegante. Como ele, há (ainda) muitos. São os chamados “Homens”. Hoje temos Homens só. Eu sou um homem ainda. Penso que nunca chegarei a ser um “Homem” como é ainda o meu tio. Tem “mulher” mas não tem esposa. É uma mulher com quem ele casou há 29 anos, de quem tem 2 filhos, que mora com o meu tio “Homem” e que também dorme, almoça, toma café, fuma, janta e dorme com ela, a mulher dele. Mas não é esposa. O meu tio diz que é um “Homem” porque tem e teve varias amantes. Diz ele naquele tom que só o “Homem” tem, ao mesmo tempo que reparamos na enorme maçã de Adão que a garganta expõe (coisa de “Homem” só): “Tenho a mulher em casa mas vou sempre fodendo. Quando chego a casa tenho alguém, quando saio também tenho”.

- Bestial tio!

falei eu mas não pensei eu.

Que cabrão. Se eu gostasse de ti ou tivesse algum respeito por ti, cuspia na tua cara. O que vale é que sempre te desprezei. E tu não tens uma mulher, tens uma Senhora. No fundo és um merdas. Um desperdício.

Pensei eu mas não falei eu.

E é assim que ele faz a mulher dele feliz. As outras também deve fazer. Basta pagar um jantar num restaurante caro com pratos de nome estrangeiro. Mas tem que ter um nome pomposo. Podia ser “Vitela à lá Parisien” dito pelo próprio tio. Uma coisa com pompa mas sem circunstância, mas que as outras, que ele também faz feliz, iam adorar e contar ás amigas. As amigas dessas são as que põem anúncios nos jornais a recrutar “Cavalheiro simpático, na casa dos 40 anos, com vida financeira estável”. Acho deselegante. Tanto soutien queimado para isto. São mais putas do que o meu tio.

Eu pergunto-me sempre: porque é que eu não consigo fazer a Mulher feliz, a minha, e ele consegue fazer todas? Não respeita mulheres. Não respeita família nem amigos. Não respeita ninguém. Nem a ele próprio. Que pedaço de gente desperdiçada. No cemitério há tanta gente que me faz falta e este cabrão ainda anda por aqui. Deus não me respeita. O meu tio também não.

E eu digo sempre que a coincidência tem a perna muito curta.

O meu tio faz as mulheres dele feliz porque é “Homem”. Eu sendo apenas homem não consigo fazer a minha feliz. Já fiz de tudo: digo que ela é linda quando acorda, quando está a dormir, quando está a ressonar, quando está de rolos na cabeça, quando está com olheiras, quando está de chinelos, pijama e ranhosa num dia de Dezembro com o lenço de papel na mão. Nem quando chega à noite cansada está feia. É bonita sempre. Já lhe ofereci quase a minha vida. Pelo menos este (grande) pedaço dela. Mas ainda não consegui. As flores, as viagens, os fins de semana, os beijos, os postais, os “amo-te” diários, os telefonemas, as mensagens, as palavras, os jantares, os almoços, os dias que cozinho, os dias que lavo, os dias que arrumo, os dias que digo “não te preocupes, és a melhor”, nada disto chegou ainda para a fazer feliz. Minto. Há dias que sei que está feliz, mas é apenas durante uns segundos. A seguir já não está. E é aí que eu não percebo. O meu trabalho é ama-la e acho que não estou a conseguir, como o meu tio consegue sempre. O meu tio não ama e consegue fazer todas felizes. Eu amo e não consigo fazer a minha feliz. Dá-me voltas ao estômago só de pensar nisto. Ainda sou homem, é certo, mas tenho tanto para doar e para dar que nisso sou um verdadeiro Homem. Quando me olho ao espelho sinto um vazio. E é isto que me dói todos os dias. O vazio provocado por não saber fazer o meu trabalho bem: Amar-te.

Se calhar vou ligar ao meu tio, que agora até estamos perto do Natal, e vou lhe dizer que quero ser “Homem”como ele é. Falarmos de “Homem” para “Homem”. E ter mulher(és) em vez de esposa. Já imagino o meu tio, com a aura de ex-combatente de Angola, com a devida tatuagem no braço a dizer-me em voz alta numa merda de um café qualquer onde se juntam os bêbedos todos do bairro: “Deixa-te de paneleirices! As gajas são todas umas putas." Sim tio, mas era melhor eu dizer aquilo que penso: “Você é um merdas”.

O meu tio perdoava isto. Deus também. Que coincidência.

Dada a conversa tida com o meu tio eu saía sem perceber,afinal, porque não consigo fazer uma mulher feliz. A minha neste caso. Que é a mais bonita, a mais inteligente, a mais bem vestida, a que tem mais classe, a que conduz melhor, a que fala melhor, a que cozinha melhor, a que escreve melhor, a que é a melhor de todas! Mas o meu trabalho está ou mal feito ou inacabado. Prefiro dizer que está inacabado. Mas também custa sempre trabalhar sem conseguir ver o objectivo. Até parece que estamos a trabalhar por desporto. E se algum desporto que ninguém pratica é o trabalho.

Ninguém. Nem Deus. Nem o meu tio. Mais uma coincidência.

Dar felicidade a uma Mulher dá muito trabalho. Dar felicidade à minha dá muito mais. Acho que já não consigo trabalhar nestas condições tão violentas. Já pensei em desistir deste meu trabalho e procurar outro ou mesmo ficar sem fazer nada durante um tempo. Para tentar recuperar alguma coisa daquilo que entreguei. O meu tio diz que nunca dá nada a ninguém. E as mulheres dão-lhe sempre o que ele quer. E é aí que eu solto um grito para dentro e penso que eu dei tudo à minha, mas a minha não me deu quase nada. Sofro.

Vou dormir sozinho com as merdas das palavras a comerem-me o cérebro. As memorias a devorarem-me e os pensamentos a triturarem-me o pouco espaço do cérebro que ainda é meu. Dou por mim a escrever isto e a ser devorado mais um bocado. Qualquer dia expludo. Se calhar o melhor é fazer greve e não trabalhar amanhã. Nem depois de amanhã. Se calhar é melhor falar com o meu tio.

E o meu tio não trabalha ao Domingo. Deus também não. Não acredito em coincidências, mas começo a pensar nelas.